Mais que um simples poeta
Blog-Homenagem dedicado "a todos aqueles que nos emprestam sua testa construindo coisas pra se cantar..."
Certa vez ouvi o Chico em entrevista, dizendo que ele levou até o Jobim uma determinada canção e notou no mesmo um certo "desdém" em relação a não só esta, mas a outras canções que havia levado em suas últimas visitas ao maestro. Ocorre que, segundo Chico, não havia "desdém" algum, porém, o Tom já havia criado tantas canções ao longo de sua estada no planeta Terra, que o que ele mais queria mesmo, no momento, era ouvir os passarinhos.
Soneto
Sim, o blog está de volta. Agora será um pouco repaginado, como tava tão pessoal quanto um blog de coisas pessoais, e não como um blog que reune coisas concretas resolvi torna-lo logo então vitrine de pensamentos que as vezes tenho e se perdem, sem que ele perca a caracteristica de anunciador da bossa. pensamentos estes tidos, quando oculpo os ouvidos com a boa música. Então todo pensamento, seguirá as musicas que me inspiraram a tê-lo.
O amor não tem pressa Ele pode esperar em silêncio...
A Brusca Poesia da Mulher
(Vinicius de Moraes)
Minha mãe, alisa de minha fronte todas as cicatrizes do passado
Minha irmã, conta-me histórias da infância em que que eu haja sido herói sem mácula
Meu irmão, verifica-me a pressão, o colesterol, a turvação do timol, a bilirrubina
Maria, prepara-me uma dieta baixa em calorias, preciso perder cinco quilos
Chamem-me a massagista, o florista, o amigo fiel para as confidências
E comprem bastante papel; quero todas as minhas esferográficas
Alinhadas sobre a mesa, as pontas prestes à poesia.
Eis que se anuncia de modo sumamente grave
A vinda da mulher amada, de cuja fragrânciajá me chega o rastro.
É ela uma menina, parece de plumas
E seu canto inaudível acompanha desde muito a migração dos ventos
Empós meu canto.
É ela uma menina.
Como um jovem pássaro, uma súbita e lenta dançarina
Que para mim caminha em pontas, os braços suplicantes
Do meu amor em solidão.
Sim, eis que os arautos
Da descrença começam a encapuçar-se em negros mantos
Para cantar seus réquiens e os falsos profetas
A ganhar rapidamente os logradouros para gritar suas mentiras.
Mas nada a detém; ela avança, rigorosa
Em rodopios nítidos
Criando vácuos onde morrem as aves.
Seu corpo, pouco a pouco
Abre-se em pétalas...
Ei-la que vem vindo
Como uma escura rosa voltejante
Surgida de um jardim imenso em trevas.
Ela vem vindo...
Desnudai-me, aversos!
Lavai-me, chuvas!
Enxugai-me, ventos!
Alvoroçai-me, auroras nascituras!
Eis que chega de longe, como a estrela
De longe, como o tempo
A minha amada última!